Cem
anos atrás no dia de ontem – 14 de dezembro de 1911 – Roald Amundsen e
sua equipe de exploradores noruegueses se tornaram os primeiros homens a alcançar o Polo Sul,
levados por cães. Mas só foi em 1963 que o primeiro carro de linha
desembarcou em terras antárticas, um Fusca praticamente de fábrica
conhecido como “o Terror Vermelho”. Esta é a sua história.
A primeira tentativa de levar automóveis à Antártida foi com um Arrol-Johnston 1907 e um Austin 7 1927.
Nenhum dos carros tinha teto e foram um verdadeiro fracasso no
continente gelado, mesmo depois de muitas modificações (o primeiro era
tão ruim que frequentemente feria os homens responsáveis por
consertá-lo).
Nas
décadas seguintes, cães siberianos e trenós motorizados foram os meios
de transporte dominantes entre os exploradores da região e, mais tarde,
os cientistas.
Na
década de 1960, entretanto, estava claro que os cachorros seriam
substituídos na região, mas as únicas alternativas motorizadas eram
caros veículos com trenós. Roy McMahon, indicado em dezembro de 1962
para liderar uma expedição de um ano para a ANARE (expedição nacional
australiana de pesquisa antártica), viu uma oportunidade quando teve a
chance de escolher quais veículos levar para a Estação Mawson da
Austrália.
McMahon
foi à Volkswagen da Austrália e pediu um carro grátis. McMahon sabia
que um Volkswagen antártico seria uma grande oportunidade publicitária
para os Fuscas que começavam a ser fabricados no país, então eles
resolveram deixar que McMahon retirasse um sedã Vermelho Rubi da linha
de montagem. Em menos de três meses e com poucos mil quilômetros no
tacógrafo, o carro desembarcou do quebra-gelo Nella Dan, e logo foi apelidado de “o Terror Vermelho”.
Por ser refrigerado a ar, não tinha um líquido de arrefecimento para congelar, apesar de precisar de um óleo fino como querosene para
se manter lubrificado em temperaturas abaixo de 50 graus. As únicas
modificações para preparar o carro eram mudanças comuns que a VW fazia
em seus carros para o norte da Europa e um par de placas “Antarctica 1”.
O
besouro encontrou um cenário desanimador: sem estradas, temperaturas
negativas, e tempestades de neve que duravam semanas. Até mesmo os ventos testavam sua resistência.
Ventos de até 160 km/h que mais de uma vez viraram as portas, vencendo a dobradiça e empurrando as portas contra as calotinhas.
Fora
ter que reforçar as portas de vez em quando, o único problema que o
carro teve nesses 12 meses e quase 2.400 quilômetros na Antártida foi
que a estrutura onde a barra de torção dianteira era fixada geralmente
se partia contra as rochas. Em um de seus relatórios para a VW da
Austrália, McMahon elogiou a capacidade do carro de lidar com o terreno.
Nesta viagem encontramos encostas de gelo, campos nevados, vales repletos de fendas e nenhuma dor de cabeça para o “Terror Vermelho”. A chegada a Fischer é em uma encosta nevada bem íngreme agravada pela neve fofa, mas o VW alcançou o topo.
Alguns
de seus telegramas somente faziam referência ao quão bizarramente
incrível devia ser dirigir um Fusquinha vermelho pela paisagem
congelada.
DIRIGI COM O VOLKSWAGEN A RUMDOODLE.
EXCELENTE DESEMPENHO. RODAR DIVERTIDO. McMAHON.
É
a pista de Rumdoodle, que o Terror Vermelho visitou muitas vezes. O
besouro frequentemente carregava pessoas e equipamentos pelos 19
quilômetros entre a pista e a estação de pesquisa. O tempo recorde entre
a base e Rumdoodle era de 50 minutos, o que dá uma ideia do quão brutal
era o terreno na Antártida. O carro permitia ainda que os cientistas
formassem excursões entre a base e o local de pesquisa, e quando o porto
congelava e o tempo estava bom, levava esquiadores e era usado pelos
domingueiros sobre o mar congelado.
Quando
finalmente voltou para a Austrália em 1964, foi devolvido à VW, mas ao
invés de colocá-lo em um museu, como se esperaria de um veículo
histórico, o inscreveram no rali BP disputado pela Austrália em 1964.
Sério! E o Terror Vermelho venceu de cara! Nem é preciso dizer que a VW
divulgou a todos os ventos sua pequena história de sucesso, e até
produziu este curta com os 300 metros de filme que a VW deu a McMahon lá
em dezembro de 1962.
Por
mais histórico que o carro possa parecer, seu paradeiro é desconhecido.
Um grupo de fãs australianos da marca montou uma grande operação de
busca em 2002. Mas não conseguiram nada.
Se você encontrar um Fusca vermelho com alguns adesivos curiosos em sua porta, lembre-se de mandar um email.
Fotos:
Crédito das fotos: Volkswagen Austrália
PUBLICADO NO BLOG VIAJANDO NUM FUSCA (http://viajandonofusca.blogspot.com.br/)
Nenhum comentário:
Postar um comentário